(Sobre)vivendo em períodos históricos


( Música para acompanhar este texto: Happier - Marshmello ft. Bastille, ao final)

Cara, tempos se passaram desde a última vez em que escrevi alguma coisa. Hoje me vieram tantos pensamentos, que decidi revisitar meu velho blog, enquanto pensava "poderia escrever algum texto como aqueles, românticos e ingênuos que tanto eu gostava de redigir...", mas eis que nada legal me dá tanta vontade de escrever sobre. 
Decidi então jogar umas palavras simples sobre a vida nesta noite de julho de 2020.
Desde março, não vejo meus amigos do trabalho, não vejo meus alunos (sou professor, mas esse blog ainda não conheceu essa história, quem sabe noutro dia), não saímos mais para tomar sorvete enquanto perambulamos pelas lojas de departamento, pelo shopping, entre as seções de roupas da Renner aleatoriamente, enfim... estamos todos onde devemos, dentro de casa, o quanto possível. Veja só! Quando chega o começo do mês me pego ansiando pelo dia de fazer compras no mercado. Chega a ser trágico.
O "work from home" não tem tanto sabor ao menos a mim - como se eu tentasse comer um hambúrguer de soja: parecido, mas jamais igual - pois parece simplesmente que um dia está passando após o outro, onde não se vê um dia realmente produtivo, satisfatório de trabalho.
Bom, suponho que não posso me queixar de ter um emprego nesse momento atual, mas ainda assim, dá pra dizer que já não vivemos mais, senão meramente sobrevivemos, torcendo para que os ventos da boa vontade - do poder público, do vírus, do destino, de deus - soprem a nosso favor. Em momentos assim, é perceptível a impotência que nós sentimos, isolados, acuados, enquanto essa sombra paira sobre os nossos pensamentos. Ah, e não se pode deixar de mencionar que a culpa é toda nossa. Por suas escolhas e condutas, a culpa é do ser humano. Não cabe a mim elucidar porquê.
É especialmente triste que eu esteja prestando a escrever sobre isso. A primeira vez que deixo minhas aspirações ingênuas e mundanas de lado para falar um pouco sobre a realidade terrena. Essa semana  inclusive faleceu um vizinho aqui do prédio. Sabe lá se foi por causa de Corona, mas isso não importa. Aliás, pouco conhecia eu da pessoa em questão. Ainda assim, talvez tenha sido esse o gatilho que me deu uma certa vontade de escrever algo sem saber o quê, e o evento triste deve ter drenado minhas aspirações a escrever algo mais esperançado. Foi quase como um lembrete da nossa fragilidade, das nossas barreiras, também dos horizontes... Tá tudo tão, tão estranho. Se já éramos humanos sós e desconfiados, agora somos ainda mais arredios, e ironicamente o tempo de crise, que requer mais unidade, é o que nos afasta. Tá tudo tão, tão estranho... Mas aparentemente, isto é viver - senão sobreviver -  em períodos históricos.



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