Amor em Dois Acordes

Dos acordes desse violão velho, tiro sempre dois tons tristes.
O primeiro é você, em Sol Maior, o meu sol. E então vem Lá Maior, que sou eu sempre a ir atrás de ti, aqui e acolá.
Os dedos correm por essas cordas, já sentindo a aspereza do aço, e os riscos nos trastes corroídos.
Assim como nosso amor, o tato perdeu certa suavidade, e há muito ele adquiriu alguns arranhados e marcas profundas.
Do braço até a mão, sinto a rigidez da madeira, lembrando de certa maneira porém, a ternura do seu toque.
Passando a mão pelas curvas do corpo deste velho violão me distraio em meio à ilusão da curva dos teus lábios em perfeita equalização com os meus quando ambos se encontravam.
As cordas vibram incessantes, e a melodia se faz escutar dentre um e outro vacilo dos acordes, numa semelhança subliminar à nossa montanha-russa amorosa cheia de baixos e altos.
As cordas se oxidaram, e não importa o quanto ajuste as cravelhas, assim como o amor já não se ajusta a nós, estas cordas não reproduzem mais o mesmo som límpido.
Porém, tal qual o violão velho, o amor só tende a se enferrujar caso não receba o devido tratamento e atenção.
Se mesmo bem cuidado acontecer uma desarmonia, não se preocupe. Talvez não seja sua música. Talvez você toque melhor um piano.
Às vezes, não importa quantas partituras são tocadas, se a música não agrada.
E por vezes é necessário um novo jogo de cordas, e novas perspectivas do nosso futuro.
Na pior das hipóteses, um instrumento diferente e um novo amor.

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