Meia-noite na Cidade-luz

O relógio marca exatamente meia-noite. Caminho pela Avenue des Champs-Élysées observando as árvores e os velhos prédios banhados pelo luar na Paris noturna.
Os edifícios brancos refletem a luz num tom fantasmagórico, e as copas das árvores chacoalham turbulentas, agitadas pelo zéfiro invernal da madrugada. Apesar da estação, o céu está límpido e pontilhado de estrelas, e ao longe posso apreciar a silhueta da Tour Eiffel, prostrada às margens do La Seine. A sua arquitetura art nouveau contrastava com as sóbrias construções em estilo Haussmann da avenida, e a iluminação bottom-up a deixava com um ar sombrio.
Minha alma também jazia sombria, devo dizer. O frescor do tempo não se comparava minimamente ao frio que eu sentia no coração, e a cidade fervilhante contrastava com minhas emoções inertes.
Minhas memórias de andanças desacompanhadas por estes passeios se perdem em tempos obsoletos.
Passei em frente a um café ainda aberto àquela hora, e pude escutar a suave melodia coincidente de Les Champes-Élyssés, de Joe Dassin, que me fez lembrar de ti, e de quando nós cantamos e dançamos e nos beijamos.
A larga calçada iluminada é um convite a andar a braços dados até o Arc de Triomphe, sentar diante de uma padaria e degustar alguns macarons, e permitir que o romance da cidade-luz nos inunde.
Em alguma manhã do passado lembro que nos deitamos na grama de cor esmeralda do Champ de Mars enquanto apreciamos a doçura da paixão e do vinho, aquecidos pelo Sol primaveril.
Mas a minha surpresa é que não havia percebido essa cidade de forma tão bela antes, e isso é compreensível, na verdade.
Afinal, nem mesmo Paris em todo o seu esplendor poderia tomar mais da minha atenção do que você, mon amour...

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