Casa de Praia

Do café emanava um fino vapor e uma essência deliciosa. Os raios de luz do sol do amanhecer cortam a bruma de beira-mar e o odor da maresia penetra profundamente trazendo sabores marinhos densos e salgados.

Aquela manhã igualava-se a qualquer outra, exceto pelo sentimento de saudade que hoje se fazia presente, impregnado nas paredes, nos lençóis e nas lembranças daquela casa de praia.
Os ventos gélidos de além-mar golpeavam as janelas, mas apesar do clima álgido naquele cômodo, a lareira jazia estagnada, sem um resquício sequer de lenha em brasa, ou sequer de cinzas apagadas.
Não havia escassez de lenha. O que não se fazia presente entretanto, era quem costumeiramente acendia o fogo que aquecia a sala.
Ironicamente, por mais que não estivesse ali fisicamente, com certeza permanecia de maneira abstrata, nas almofadas amarrotadas do sofá, no café quente e saboroso, no cheiro familiar que se sentia pela casa.
No quarto, a cortina farfalhava atiçada pelo vento brincalhão, fazendo tilintarem os guizos e lantejoulas que a adornavam. Viam-se travesseiros, lençóis, roupas e sapatos jogados pelos cantos e espalhados pelo chão. Na cama havia uma coberta macia, uns livros e algumas manchas de café e lágrimas.
A janela escancarada dava para o mar, em direção ao oriente, donde o sol se levantava. O brilho hoje parecia opaco, enevoado.
A praia encontrava-se deserta àquela hora, a poeira a dançar em redemoinhos, e as ondas do mar banhavam suavemente as areias. Algumas gaivotas perambulavam pela orla, pacatas e alheias. A baía se estendia por todo o cabo, findando num alto penhasco, onde o farol erguia-se, austero.
Há muito não caminhava por ali. Hoje pisa nas areias sozinha, a perder o olhar no horizonte, esperando talvez que uma embarcação surja trazendo-o a bordo.
O tempo passou. Mas do café ainda emana um fino vapor e uma essência deliciosa...

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