Descompasso (Parte 5 de 7)

Juliana não acordou bem. Ironicamente, o dia amanhecera chuvoso em São Paulo.
Havia combinado de almoçar com o Eduardo hoje, mas estava se sentindo pouco tentada a ir vê-lo. Decidiu ir pois achou que encontrá-lo ia melhorar seu humor sombrio.
Já ele sentia um certo descompasso entre os dois. Já não transavam há um certo tempo, nem se viam com muita regularidade porque a Ju estava sempre atarefada. Os telefonemas eram breves, e as conversas, insossas.
Lá pelas tantas, ela chegou no Le Vin Bistro, onde haviam marcado, e ele já a esperava. Ele se levantou e a abraçou.
Sentaram-se. Logo notou que ela estava de poucas palavras.

- Aconteceu alguma coisa?
- Un-un.
- Tem certeza?
- ...
- Eu sei quando tem algo errado, Ju. Eu até sinto isso agora. Vai, pode falar.
- (suspiro) Tá bom Dú... Eu... Eu quero dar um tempo.
- Hã? Como assim? Mas por quê?
- Ai, não tá legal entre a gente, não sei... Preciso ficar sozinha, só isso. Tem muita coisa acontecendo agora, e eu não ando me sentindo bem.
- Mas Ju, você não pode terminar isso assim, eu te amo poxa! Você não me ama mais? Ou é outra pessoa?
- Não Dú, só preciso ficar sozinha, mesmo! Juro.
- E o que vai haver entre nós dois quando eu voltar?
- Voltar?! Voltar de onde?
- Eu ia te contar hoje. Vou fazer um curso no exterior, pela agência, por quatro meses, e só vou dar um pulo aqui de novo em dois meses. Viajo em duas semanas.
Nesse momento um pouco dela ruiu.
- Eu... Eu... não sei o que dizer.
- Não diga nada, melhor assim. Que posso fazer? Há dias que não te vejo direito, e agora que vou ficar meses fora, não vou ter pra quem voltar.
- Eu não disse isso!! Desculpe. Eu não disse isso, é só um tempo, Dú...
- Quanto tempo, Juliana? Dias, semanas?
Ela não sabia dizer, era simples assim. Diante do silêncio, ele apenas se levantou.
- Tenho que voltar pra agência. Preciso preparar meus documentos pra viagem.
- Tá bom...

E ele se foi sem se despedir, enquanto ela lidava com o peso de ver ele ir embora, e com a ideia de não vê-lo por meses.
Agora a sensação de estar deixando alguém escapar por entre os dedos a consumia mais que o mal-estar de antes.