Ventura (Parte 1 de 7)

 Como em todos os finais de tarde, o trânsito de São Paulo permanecia congestionado, e a Faria Lima nas alturas do Itaim Bibi encontrava-se acometida por uma chuva intensa.
As gotas escorriam pela janela embaçada do carro de vidro fumê. Apesar do clima gris, os pensamentos que tomavam conta dele eram um mundo de cor.
O cansaço de um longo dia de trabalho naqueles escritórios apinhados de gente andando às pressas pelos corredores estava pesando nos ombros, e a noite ainda seria longa, e mesmo assim ansiava pelo momento próximo.
Seu primeiro destino era o apartamento no bairro dos Jardins. Deveria se preparar adequadamente para a ocasião, que de fato não poderia ser nada demais, mas sempre era particularmente especial.
Vestindo a camisa de seda que ela gostava, se pôs ao volante novamente e logo tomou rumo para o Sacra Rolha, na Vila Mariana, onde combinara de encontrá-la. A escolha do local não era intencional, mas coincidentemente fora ali que ele a conheceu.
Hoje, ela estava tão linda como da primeira vez que se encontraram. Aliás, poderia dizer que estava ainda mais bela, com seu sorriso contido, misterioso e acalentador.

Os cabelos ruivos ondulados refletiam a luz suave do lugar, que dava a impressão que uma aura tênue a envolvia.
Um demorado beijo, um breve olhar no fundo dos olhos, e conversas banais enquanto apreciavam o caloroso momento na companhia um do outro, regada a tintos.
E assim, mais tarde noutro lugar, se ouve uma música romântica e respirações arfantes enquanto o cheiro do amor penetra nos sentidos entorpecidos pela emoção e pelo álcool, após braços e pernas se entrelaçarem freneticamente até o ápice do prazer.

Então, vê-se que do amor também se faz mais ventura que infortúnio, uma vez que nos impulsiona a seguir adiante, apesar dos pesares do dia a dia...

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